Estudante de Enfermagem fez um levantamento em mais
de 31 mil prontuários registrados de janeiro a dezembro de 2011
Durante dois meses, o estudante de
Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas, Michell Alencar, se
debruçou sobre mais de 31 mil prontuários de atendimento do Sistema de
Arquivo Médico do Hospital Geral do Estado. O objetivo foi detectar o
perfil epidemiológico das vítimas de arma de fogo e arma branca em
Maceió. O pesquisador, orientado pela professora Ruth Cizino, observou
idade das vítimas, locais do corpo mais atingidos, procedimentos
adotados na emergência e outros dados para traçar um perfil das vítimas
de violência na capital alagoana.
No período estudado, de janeiro a
dezembro de 2011, foram internadas 592 pessoas que foram vítimas de
agressão por tiro ou facadas. A grande maioria desses pacientes é do
sexo masculino, 90,4%, e são jovens, já que 83,5% dos agredidos estão na
faixa etária de 15 a 39 anos. A arma de fogo é o instrumento
mais utilizado, em 70,9% das agressões. "Esse levantamento indica também
o quanto o serviço de urgência e emergência fica sobrecarregado com a
violência. Essas vítimas exigem atendimento especializado e demandam um
longo tempo de tratamento", ressaltou o estudante.
Michell Alencar pretende trabalhar nas
equipes do Serviço Móvel de Urgência, o Samu. Ele já percebeu o quanto é
preciso estar preparado para situações dramáticas, que exigem uma ação
rápida por parte dos socorristas. No Hospital Geral do Estado, o
enfermeiro acompanhou a dedicação dos profissionais da área vermelha,
empenhados em salvar vidas, mas também constatou que muitas vezes é uma
batalha perdida. "Mais de 15% dessas vítimas acaba morrendo, apesar de
todos os procedimento adotados na ala vermelha", lamentou o estudante.
Analisando os prontuários, Michell
também fez um levantamento dos bairros mais violentos, segundo os dados
do arquivo médico. As vítimas vieram do Tabuleiro dos Martins,
Jacintinho, Benedito Bentes e Trapiche. O HGE também recebe vítimas do
interior, de cidades que ficam mais distantes da Unidade de
Emergência do Agreste, localizada em Arapiraca. Nesses casos, o maior
número de pacientes é de São Miguel dos Campos, Marechal Deodoro e Rio
Largo. As ocorrências aumentam durante os finais de semana. "Algumas
pessoas bebem mais, usam drogas e acabam se expondo em bares e festas",
explica o estudante.
O transporte para as vítimas também foi
indicado na pesquisa. O papel de salvamento do SAMU fica evidente, já
que 56,9% das vítimas chegam ao HGE por meio deste serviço. Mas os casos
em que as pessoas são socorridas por parentes e amigos em carros
particulares também são muitos, representando 28,5% do total de vítimas
no período estudado. As ambulâncias, viaturas do corpo de bombeiros e da
polícia militar também colaboram consideravelmente com o transporte das
vítimas até o Hospital.
Na conclusão do Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC), Michell Alencar lamentou que, apesar de todos os
esforços na área de segurança pública, Alagoas ainda mantenha índices
tão altos de violência. Segundo o estudante, é preciso investir em
políticas públicas para garantir uma melhor perspectiva de vida para
a juventude que acaba sendo o maior alvo da criminalidade. "Proporcionar
a população uma boa qualidade de vida, com o desenvolvimento de praças,
parques, construção de escolas para o desenvolvimento educacional dos
indivíduos, saúde digna, transporte públicos visando assim, o bem-estar
de todos com o objetivo de diminuir o índice de violência tanto na
capital Maceioense e em todo o Estado de Alagoas", concluiu o estudante.